quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Traição tem perdão?

Renata Moreno
 
 
Há quem diga que o pior dos sentimentos é a dor da traição. Perdoar é difícil. Traídos e traidores, todos terão seus argumentos, mas no final o que sobra é a incompreensão. “Porque comigo?”. “O que eu fiz de errado?”. Nesses casos, é importante saber que o primeiro e o último amor de uma pessoa deve ser o amor próprio!

Os desconfiados desafiam a traição e sabem bem que somente o inimigo não trai nunca! Até os santos já caíram nas suas armadilhas. “(...) ao traduzir a Bíblia para o latim, São Gerônimo confundiu-se e fez com que Moisés descesse do Monte Sinai, carregando as Tábuas da Lei, com dois "chifres de luz" na cabeça, - quando na realidade o profeta tinha dois "fachos de luz" a encimá-lo. O grande pintor italiano Michelangelo acreditou no santo e fez a famosa estátua de Moisés com dois chifres.” (Haroldo de Campos - O tradutor é um transfigurador).

Isso mesmo! Estamos falando da traição na comunicação, um campo minado, pois levando em consideração que a principal função da linguagem é estabelecer comunicação, logo “vale tudo” para ser compreendido?

Veja um exemplo inusitado, e que foi amplamente divulgado pelo youtube, no qual um “candidato” a turista argentino fala ao telefone com o atendente de uma pousada no Brasil:

- Alo? Hablo com a Pousada do Mar?

- Como vai? Como estái? Yo quiero por uma habitacionzinha que você tiene em su hotelzinho. Você me entenchi? Eu um aviso em internechi, em la habitação, em la praia...

- Ah! Está em frenchi? Me gosta, me gosta moito...

- Uma última preguntação, el hotelzinho teim desayunação incluído?

Devido à natureza comum do Português e do Espanhol, a comunicação entre hispanofalantes e brasileiros é, muitas vezes, instantânea e a interação se encaminha logo na direção comunicativa.

Mas o que há de mal nisso? A questão é que os agentes da comunicação acabam usando uma interlíngua, popularmente, conhecida como “portunhol”. Há quem advogue a favor do “portunhol”, como um processo esperado entre aprendizes, mas falar portunhol não é falar uma língua, mas falar palavras de outra língua.

Veja outro exemplo. Um empresário brasileiro recebe um telefonema de seu maior cliente, um venezuelano:

- Decidimos cancelar ahora el pedido - dizia o venezuelano, bem humorado.

- Como cancelar? - perguntou o brasileiro suando frio e tendo taquicardia.

- Si, vamos a cancelar ahora. ¿No prefieres así?

- No, no y no! - respondeu o brasileiro, já descontrolado, aos gritos!

Cancelar em espanhol é pagar! Cancelar a dívida.

É certo que existem dois tipos de língua: a língua como norma e a língua enquanto prática daqueles que a falam. Todavia, hoje, devido às relações comerciais tornou-se “imperioso” saber corretamente o espanhol, pois o “portunhol”, já não é suficiente para dar conta da comunicação oral objetiva.  E nesse sentido: TRAIÇÃO NÃO TEM PERDÃO!

 


Amigos cada vez mais falsos...

Renata Moreno


Quem já foi vítima de um falso amigo sabe muito bem o pesadelo que isso nos causa. O pior é que os falsos amigos estão por toda parte, em cada esquina. Por isso todo cuidado é pouco! Além do mais, os falsos amigos gostam mesmo de se passar por melhores amigos, que é para farsa durar bastante. Até mesmo entre irmãos a falsidade existe e ai aparentar ser o que não é torna-se inclusive perigoso.
Mas calma, não estamos falando das relações humanas em nosso trabalho, nosso lazer, nossa família e outras tantas mais, estamos falando dos heterossemânticos.
Os heterossemânticos ou falsos cognatos são pares de palavras de origem comum, ou seja, verdadeiros cognatos, entre dois idiomas distintos, mas que sofreram evoluções semânticas distintas em seus significados e, por isso, interferem tanto no processo de comunicação entre os interlocutores dos dois idiomas.
A denominação falsos amigos não é científica, trata-se apenas de uma maneira irônica de denominar essas armadilhas que esses falsos aprontam! Eles podem estar presentes em vários idiomas, como por exemplo, entre: português x francês; português x inglês; português x alemão.
Essas palavras podem ser semelhantes, ou até mesmo idênticas, tanto na grafia como na pronúncia. Um heterossemânticos bem comum entre as línguas inglesa e portuguesa é a palavra actually, que a maioria traduziria como “atualmente”, mas em inglês é muito mais usada com o significado de “na verdade” ou “de fato”.
Entre a língua francesa e portuguesa podemos ver exemplos muito interessantes e até mesmo cômicos. O professor Gabriel Perissé lembra que a palavra crachá “Provém do francês crachat, cujo primeiro significado é ‘escarrada’, ‘cusparada’”.
A confusão pode ficar ainda maior quanto maior é a semelhança entre os idiomas. O português que usamos hoje tem a mesma origem do espanhol (ou castelhano) que nossos “Hermanos” usam ali nos países vizinhos. São línguas românicas que têm muito em comum. O espanhol é, com exceção do galego, a língua que tem mais afinidade com o português. Exemplos e confusões hilárias, até mesmo situações trágico cômicas, como a de um aluno brasileiro, candidato a uma vaga em uma universidade espanhola, protagonizou a seguinte situação:
- A senhora me perdoe, mas eu não falo espanhol. A senhora pode perguntar em espanhol, mas vou responder em português.
- De acuerdo. ¿Cómo se llama usted?
- Fulano de tal.
- ¿Vive usted aquí?
- Não, senhora.
- ¿ Está usted casado?
- Sim, senhora.
- ¿ Ha traído usted a su mujer?
E depois de uma breve pausa:
- Sim, senhora, muitas vezes.
É justamente a semelhança que atrapalha, e o risco de cometer gafes é cada vez maior! Não se engane ao dizer que compreende espanhol somente porque fala português.