quinta-feira, 3 de abril de 2014

Os gêneros lírico e épico na obra do romantico Antônio Gonçalves Dias.

 
 
Canção do Tamoio
Antônio Gonçalves Dias

              I               
 
  Não chores, meu filho;
    Não chores, que a vida
    É luta renhida:
    Viver é lutar.
    A vida é combate,
    Que os fracos abate,
    Que os fortes, os bravos
    Só pode exaltar.
 
 
  II
 
  Um dia vivemos!
    O homem que é forte
    Não teme da morte;
    Só teme fugir;
    No arco que entesa
    Tem certa uma presa,
    Quer seja tapuia,
    Condor ou tapir.
 
 
  III
 
  O forte, o cobarde
    Seus feitos inveja
    De o ver na peleja
    Garboso e feroz;
    E os tímidos velhos
    Nos graves concelhos,
    Curvadas as frontes,
    Escutam-lhe a voz!
 
 
  IV
 
  Domina, se vive;
    Se morre, descansa
    Dos seus na lembrança,
    Na voz do porvir.
    Não cures da vida! 
  Sê bravo, sê forte! 
  Não fujas da morte,
    Que a morte há de vir!
 
 
  V
 
  E pois que és meu filho,
  Meus brios reveste;
  Tamoio nasceste,
  Valente serás.
  Sê duro guerreiro,
    Robusto, fragueiro,
    Brasão dos tamoios
    Na guerra e na paz.
 
 
  VI
 
  Teu grito de guerra
    Retumbe aos ouvidos
    D'imigos transidos
    Por vil comoção;
    E tremam d'ouvi-lo
    Pior que o sibilo
    Das setas ligeiras,
    Pior que o trovão.
 
 
  VII
 
  E a mão nessas tabas,
    Querendo calados
    Os filhos criados
    Na lei do terror;
    Teu nome lhes diga,
    Que a gente inimiga
    Talvez não escute
    Sem pranto, sem dor!
 
 
  VIII
 
  Porém se a fortuna,
    Traindo teus passos,
    Te arroja nos laços
    Do inimigo falaz!
    Na última hora
    Teus feitos memora,
    Tranquilo nos gestos,
    Impávido, audaz.
 
 
  IX
 
  E cai como o tronco
   Do raio tocado,
    Partido, rojado
    Por larga extensão;
    Assim morre o forte!
    No passo da morte
    Triunfa, conquista
    Mais alto brasão.
 
 
  X
 
  As armas ensaia,
    Penetra na vida:
    Pesada ou querida,
    Viver é lutar.
    Se o duro combate
    Os fracos abate,
    Aos fortes, aos bravos,
   Só pode exaltar.


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