Renata Moreno
Quem
já foi vítima de um falso amigo sabe muito bem o pesadelo que isso nos causa. O
pior é que os falsos amigos estão por toda parte, em cada esquina. Por isso
todo cuidado é pouco! Além do mais, os falsos amigos gostam mesmo de se passar
por melhores amigos, que é para farsa durar bastante. Até mesmo entre irmãos a
falsidade existe e ai aparentar ser o que não é torna-se inclusive perigoso.
Mas
calma, não estamos falando das relações humanas em nosso trabalho, nosso lazer,
nossa família e outras tantas mais, estamos falando dos heterossemânticos.
Os
heterossemânticos ou falsos cognatos são pares de palavras de origem comum, ou
seja, verdadeiros cognatos, entre dois idiomas distintos, mas que sofreram
evoluções semânticas distintas em seus significados e, por isso, interferem tanto
no processo de comunicação entre os interlocutores dos dois idiomas.
A
denominação falsos amigos não é científica, trata-se apenas de uma maneira
irônica de denominar essas armadilhas que esses falsos aprontam! Eles podem
estar presentes em vários idiomas, como por exemplo, entre: português x
francês; português x inglês; português x alemão.
Essas
palavras podem ser semelhantes, ou até mesmo idênticas, tanto na grafia como na
pronúncia. Um heterossemânticos bem comum entre as línguas inglesa e portuguesa
é a palavra actually, que a maioria
traduziria como “atualmente”, mas em inglês é muito mais usada com o
significado de “na verdade” ou “de fato”.
Entre
a língua francesa e portuguesa podemos ver exemplos muito interessantes e até
mesmo cômicos. O professor Gabriel Perissé lembra que a palavra crachá “Provém
do francês crachat, cujo
primeiro significado é ‘escarrada’, ‘cusparada’”.
A
confusão pode ficar ainda maior quanto maior é a semelhança entre os idiomas. O
português que usamos hoje tem a mesma origem do espanhol (ou castelhano) que
nossos “Hermanos” usam ali nos países vizinhos. São línguas românicas que têm
muito em comum. O espanhol é, com exceção do galego, a língua que tem mais
afinidade com o português. Exemplos e confusões hilárias, até mesmo situações
trágico cômicas, como a de um aluno brasileiro, candidato a uma vaga em uma
universidade espanhola, protagonizou a seguinte situação:
- A
senhora me perdoe, mas eu não falo espanhol. A senhora pode perguntar em
espanhol, mas vou responder em português.
- De
acuerdo. ¿Cómo se llama usted?
-
Fulano de tal.
-
¿Vive usted aquí?
-
Não, senhora.
- ¿
Está usted casado?
-
Sim, senhora.
- ¿
Ha traído usted a su mujer?
E
depois de uma breve pausa:
-
Sim, senhora, muitas vezes.
É
justamente a semelhança que atrapalha, e o risco de cometer gafes é cada vez
maior! Não se engane ao dizer que compreende espanhol somente porque fala português.
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