Renata Moreno
Há
quem diga que o pior dos sentimentos é a dor da traição. Perdoar é difícil. Traídos
e traidores, todos terão seus argumentos, mas no final o que sobra é a
incompreensão. “Porque comigo?”. “O que eu fiz de errado?”. Nesses casos, é
importante saber que o primeiro e o último amor de uma pessoa deve ser o amor
próprio!
Os
desconfiados desafiam a traição e sabem bem que somente o inimigo não trai
nunca! Até os santos já caíram nas suas armadilhas. “(...) ao traduzir a Bíblia
para o latim, São Gerônimo confundiu-se e fez com que Moisés descesse do Monte
Sinai, carregando as Tábuas da Lei, com dois "chifres de luz" na
cabeça, - quando na realidade o profeta tinha dois "fachos de luz" a
encimá-lo. O grande pintor italiano Michelangelo acreditou no santo e fez a
famosa estátua de Moisés com dois chifres.” (Haroldo de Campos - O tradutor é
um transfigurador).
Isso
mesmo! Estamos falando da traição na comunicação, um campo minado, pois levando
em consideração que a principal função da linguagem é estabelecer comunicação,
logo “vale tudo” para ser compreendido?
Veja
um exemplo inusitado, e que foi amplamente divulgado pelo youtube, no qual um “candidato”
a turista argentino fala ao telefone com o atendente de uma pousada no Brasil:
- Alo? Hablo com a Pousada do Mar?
- Como vai? Como estái? Yo quiero por uma
habitacionzinha que você tiene em su hotelzinho. Você me entenchi? Eu um aviso
em internechi, em la habitação, em la praia...
- Ah! Está em frenchi? Me gosta, me gosta moito...
- Uma última preguntação, el hotelzinho teim
desayunação incluído?
Devido
à natureza comum do Português e do Espanhol, a comunicação entre
hispanofalantes e brasileiros é, muitas vezes, instantânea e a interação se
encaminha logo na direção comunicativa.
Mas
o que há de mal nisso? A questão é que os agentes da comunicação acabam usando uma
interlíngua, popularmente, conhecida como “portunhol”. Há quem advogue a favor
do “portunhol”, como um processo esperado entre aprendizes, mas falar portunhol
não é falar uma língua, mas falar palavras de outra língua.
Veja
outro exemplo. Um empresário brasileiro recebe um telefonema de seu maior
cliente, um venezuelano:
- Decidimos cancelar ahora el pedido - dizia o
venezuelano, bem humorado.
- Como cancelar? - perguntou o brasileiro suando frio
e tendo taquicardia.
- Si, vamos a cancelar ahora. ¿No prefieres así?
- No, no y no! - respondeu o brasileiro, já
descontrolado, aos gritos!
Cancelar
em espanhol é pagar! Cancelar a dívida.
É
certo que existem dois tipos de língua: a língua como norma e a língua enquanto
prática daqueles que a falam. Todavia, hoje, devido às relações comerciais
tornou-se “imperioso” saber corretamente o espanhol, pois o “portunhol”, já não
é suficiente para dar conta da comunicação oral objetiva. E nesse sentido: TRAIÇÃO NÃO TEM PERDÃO!
Ótimo artigo, Renata, meus parabéns!
ResponderExcluirAlém de muito divertido é também esclarecedor. Quem já não presenciou um desses pitorescos diálogos?
Beijos!