Os heterossemânticos ou falsos cognatos são
pares de palavras de origem comum, ou seja, verdadeiros cognatos, entre dois
idiomas distintos, mas que sofreram evoluções semânticas distintas em seus
significados e, por isso, interferem tanto no processo de comunicação entre os
interlocutores dos dois idiomas.
A denominação falsos amigos não é
científica, trata-se apenas de uma maneira irônica de denominar essas
armadilhas que esses falsos aprontam! Eles podem estar presentes em vários
idiomas, como por exemplo, entre: português x francês; português x inglês;
português x alemão.
No caso do Português e do Espanhol são palavras normalmente derivadas do
Latim, com ortografia semelhante ou idêntica, mas que ao longo dos tempos com a
sua evolução acabaram por adquirir significados diferentes. Segundo o Professor
Dr. Jose Carlos Paes de Almeida Filho, o léxico entre as duas línguas é constituído da seguinte forma: 60% de
cognatos idênticos e 30% de cognatos falsos.
Em relação à estrutura fonológica do Português e do Espanhol, o “falante”
de língua materna espanhola depara-se com bastantes dificuldades na produção de
sons do sistema do Português. Uma delas, por exemplo, diz respeito a certas
palavras que apresentam certas vogais e que se tornam difíceis de pronunciar
por falantes de espanhol, uma vez que o seu sistema fonético não tem este tipo
de vogais.
Mas é no campo lexical que surge a questão dos falsos amigos. Esta
relação de “falsa amizade” pode ocorrer em pelo menos três situações
diferentes:
ü Palavras que são
graficamente semelhantes, mas que foneticamente são diferentes, como “academia“
(Português) “academia” (Espanhol);
ü Palavras que
alteram de género entre as duas línguas, como por exemplo “a dor”, (Português)
“el dolor”, (Espanhol);
ü Palavras que
derivam do mesmo étimo latino e que, com ortografia semelhante, apresentam significados
diferentes, como acontece, por exemplo, em “esquisito” (Português), com o
significado de «algo estranho», e “exquisito” (Espanhol), que significa algo
delicioso ou de muito bom gosto.
Estas expressões lexicais podem criar confusões e provocar erros, que
levam à perda do verdadeiro sentido do texto original. Em contexto de aula,
normalmente, os falsos amigos só estão presentes quando relacionados com alguma
história engraçada que aconteceu a algum aluno ou com o professor, ou em listas
utilizadas como material de apoio à aula. Normalmente não são abordados no processo
de aquisição da língua para que o aluno crie uma consciência linguística.
O chamado “portunhol” é uma interlíngua inicial que
muitas vezes vira a forma final da proficiência, caracterizando uma
fossilização, pois um considerável número de aprendizes não “saem” do
“portunhol”! Se você perguntar aos
brasileiros se eles falam espanhol, a maioria responderá que consegue enrolar
muito bem. Outros dirão que dá para entender tudo, mas na hora de falar se
confundem. E uma ínfima minoria afirmará que tanto tem dificuldade na hora de
falar como na hora de entender; sobretudo quando se trata de dois falantes natos
se comunicando entre si.
Divergências à parte, o fato é que a maioria dos
brasileiros sente que consegue se sair bem na hora de falar
espanhol. E isto não soa como exagero. É que a semelhança entre o português e o
espanhol facilita a compreensão e a comunicação, mesmo quando não se tem pleno
domínio da língua estrangeira. É por isto que muitos brasileiros se arriscam,
sem grandes receios, a conversar em espanhol. E esta tentativa de comunicação
se tornou tão comum que já foi apelidada carinhosamente de portunhol, em
referência à mistura das duas línguas. Embora errar seja natural ao portunhol, raramente
os seus adeptos sabem em que ponto estão errando, nem onde é mais fácil escorregar.
Também não possuem a consciência de que estão se arriscando num terreno repleto
de armadilhas. Os equívocos podem surgir nas mais diversas situações: fala,
escrita, leitura. E na maioria dos casos se erra por um fio, mas se erra
quantitativamente!
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