então
se fez fonte
o que
só era toque.
um céu
todo estrela
no
encontro dos olhos,
um
fulgor que enlaça
a
calmaria da febre
onde o
tempo se despe
e a
carne clama um ato
ainda
sem nome
***
procura-se
o desassossego
das
horas inquietas e úmidas,
a
violada canção sagrada
a arder
em desertos diários.
procura-se
o incerto,
a
secura ilhada do silêncio,
o tédio
das cidades fantasmas,
os
caminhos sem saídas,
a
íntima falta
que a
memória não dissipa.
procura-se
a mina – os passos
correm
o campo, descalços:
a
explosão única e precisa,
a
limítrofe errância
entre o
plano e o precipício.
procura-se
a voraz vertigem,
o
sagrado impregnado do profano,
a
humana redenção à vida.
procura-se
o maior abismo
escavado
no coração da terra,
do céu,
no peito do aflito,
o fogo
mais intenso e quase extinto,
o
manancial do delírio,
a hora
em que deflora a flor
o
inseto e tudo é lindo.
procura-se
a loucura, o delíquio:
tudo
aquilo a que o amor se lança
fingindo
não temer o risco
***
ubuntu,
meu
coração desafia
não ser
um.
juntos,
compartir o fruto.
nem
mesmo as mãos
são só
duas, quando estendidas
ao
futuro.
bem
mais em mim que o dobro
em
tudo, revoluz, vislumbro o todo
e pó,
que sou, solto pelo mundo.
seguem
as dunas
e não
duram eternas ao vento.
à
margem do mar, marejado olhar suspenso,
aconchega
a ilusão de um mundo tão pequeno;
até
correr, pés, utopia, o espaço incalculável
do
universo, quando esquecemos o tempo:
cemitério
indesvendável do nada
***
canto,
mesmo
que o canto
não
compreenda
os
ossos todos dos ecos,
nem
saiba
o
sibilino mistério do assombro
de se
evocar, em poucas palavras,
o mesmo
e o novo,
como a
água evoca a água
o ar o
ar a terra a terra
o fogo
o fogo a mulher a vida.
gesto o
canto mesmo quando
pareço
silêncio
***
como se
a casa fosse
de sua
alma erigida,
sobre a
forma que trouxe
à luz a
sua própria vida,
é nessa
casa que habita
meu ser
que se recria:
sobre a
forma que trago,
de
minha alma ser a casa
onde
nosso amor cultiva
uma
troca de moradas,
que é a
mesma casa,
a vida
***
agora o
pouco
é tudo
o que
nos resta.
agora é
tudo.
é muito
pedir
pouco.
agora
resta
a vida
e seus outros mistérios,
sua
presença constante
e a
fuga sempre certa
do
tempo.
agora
tudo
é
o que nos resta
(“Um céu todo estrela” - Alex Dias)
Alex Dias é poeta, ator
e gestor cultural. Autor dos livros de poesia Lírica Abissal,
lançado pela editora Urutau (2016) e Um céu todo estrela, lançado
pela editora Patuá (2017), é Coordenador de Programação do Sesc Birigui e
mestrando em Teorias e Crítica da Poesia, pelo Programa de Pós-Graduação em
Estudos Literários da UNESP de Araraquara, com a pesquisa: Construção e
utopia na poesia de invenção. Tem pós-graduação em “Gestão Cultural:
Cultura, Desenvolvimento e Mercado” (2016). Possui graduação em Ciências da
Informação e da Documentação e Biblioteconomia pela USP de Ribeirão Preto
(2006). Fundou e dirige a empresa Osnáuticos – de Arte, Cultura e Educação –
onde desenvolve projetos que englobam poesia, literatura, cinema, música e
artes cênicas e visuais. Também fundou e coordena o "Poéticas –
Laboratório de pesquisa e Criação Literária e Poética" e o projeto
"Bagagem... Poesia!", voltado à mediação de leituras. Fez Magistério
(2002) em São José do Rio Preto.
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