quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

acabávamos acostumando-nos a tudo...


(...) Mais isto durou alguns meses. Depois só tinha pensamentos de prisioneiro. Aguardava o passeio diário no pátio ou a visita do advogado. O resto do meu tempo, eu coordenava muito bem. Nessa época, pensei muitas vezes que se me obrigassem a viver dentro de um tronco seco de árvore, sem outra ocupação além de olha a flor do céu acima da minha cabeça, eu teria me habituado aos poucos. Teria esperado a passagem dos pássaros ou os encontros entre as nuvens tal como esperava aq...ui as estranhas gravatas do advogado, e, como num outro mundo, esperava até sábado para estreitar nos meus braços o corpo de Marie. Ora, a verdade, afinal, é que eu não estava numa árvore seca. Havia pessoas mais infelizes do que eu. Era, aliás, uma ideia de mamãe, e ela repetia com frequência que acabávamos acostumando-nos a tudo. (...)

 (“O estrangeiro”. Albert Camus)


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